O Trovadorismo é considerada a primeira
escola literária portuguesa, ocorreu
entre os séculos XII a XIV. Neste período, Portugal se firmava como reino
independente separando-se da Galiza
ou Galícia.
O período
histórico em que se desenvolveu o Trovadorismo é chamado feudalismo (sistema de
organização social e político baseado nas relações servo-contratuais).
Neste sistema, os senhores feudais conseguiam as terras – que lhes eram dadas pelo
rei - e colocavam os camponeses para cuidar dos feudos. Em troca, os camponeses recebiam
o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção contra ataques bárbaros. Quando os servos iam para o manso senhorial, atravessando a ponte,
tinham que pagar um pedágio, exceto quando para lá se dirigiam a fim de cuidar
das terras do Senhor Feudal.
Toda a
produção literária do Trovadorismo foi desenvolvida em galego-português, língua
que mais tarde daria origem ao português.
A base da
produção literária trovadoresca foram as cantigas, que eram transmitidas oralmente. Isto facilitava a
transmissão de informações, visto que a maior parte da população não tinha
acesso a educação (centralizada nas mãos do clero e da nobreza).
Curiosidade:
O
processo de educação na Idade Média era de total responsabilidade da Igreja.
As escolas funcionavam anexas às catedrais ou às escolas monásticas, muitas
funcionavam nos mosteiros. A Igreja foi um instrumento essencial no processo
da educação na Idade Média, a grande disseminadora do conhecimento.
Para
acontecer o ensino precisava-se de uma autorização, essa era cedida pelos
bispos e pelos diretores das escolas eclesiásticas que, com medo de perderem
a influência, dificultavam ao máximo essa concessão. Reagindo contra essas
limitações, professores e alunos organizaram-se em associações denominadas universitas, que mais
tarde originou a palavra universidades. As
universidades eram compostas por quatro divisões ou faculdades. A faculdade de Artes era o lugar onde a educação acontecia de forma mais geral, as
faculdades de Direito,
Medicina e Teologia trabalhavam
o conhecimento de forma mais específica. Os diretores das faculdades eram
chamados de decanos e eleitos pelos professores; o decano da Faculdade de Artes era o reitor e representava oficialmente a universidade.
Os cursos oferecidos eram em latim e com isso exigia-se do estudante muito empenho e dedicação. O estudo
das sete artes liberais era dividido em dois ciclos: o trivium e o quadrivium. O primeiro compreendia a gramática, a retórica e a lógica; o segundo
compunha-se do estudo da aritmética, geografia, astronomia e música. Conforme
o grau de afinidade, distribuíam-se então os estudantes pelos cursos de
Direito, Medicina e Teologia. Os estudantes viviam em um ritmo frenético e as
calorosas discussões com a população eram rotineiras. De uma forma geral os
estudantes eram de origem humilde e muitos viviam internos em colégios ou
internatos que contavam com rígidas formas disciplinadoras estudantis. Com o
tempo esses colégios passaram a constituir campos de estudos autônomos, sendo
que alguns deles ainda existem, e são renomados mundialmente, como os de Oxford, Cambridge e o de Sorbonne, fundado em 1257 por Rogério de Sorbon, na França.
|
O marco inicial
do Trovadorismo é a Cantiga da Ribeirinha
(1189 ou 1198) de Paio Soares Taveirós.
No
mundo nom me sei parelha,
mentre me for' como me vai, ca ja moiro por vos - e ai mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia! Mao dia que me levantei, que vos enton nom vi fea! "
"E,
mia senhor, des aquel di' , ai!
me foi a mim muin mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e ben vos semelha d'aver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d'alfaia nunca de vós ouve nem ei valia d'ua correa". |
No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha vida continuar como vai porque morro por ti e ai minha senhora de pele alva e faces rosadas, quereis que eu vos descreva (retrate) quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima) Maldito dia! me levantei que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela).
E, minha senhora, desde aquele dia, ai
tudo me foi muito mal / e vós, filha de don Pai Moniz, e bem vos parece de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas) pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor)
de vós nunca recebi algo, mesmo que sem valor.
|
As cantigas
trovadorescas são divididas da seguinte forma:
Cantiga de Amor
"A dona que eu am'e tenho por Senhor
-
-
- amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
- se non dade-me-a morte.
-
-
-
- A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
- e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
- se non dade-me-a morte.
-
-
-
- Essa que Vós fezestes melhor parecer
- de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
- se non dade-me-a morte.
-
-
-
- A Deus, que me-a fizestes mais amar,
- mostrade-me-a algo possa con ela falar,
- se non dade-me-a morte."
-
- Eu lírico masculino
- Assunto Principal: o sofrimento amoroso do eu-lírico perante uma mulher idealizada e distante.
- Amor cortês; vassalagem amorosa.
- Amor impossível.
- Ambientação aristocrática das cortes.
- Forte influência provençal.
- Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhor".
Cantiga de Amigo
-
-
- "Ai flores, ai flores do verde pino,
- se sabedes novas do meu amigo!
-
- ai Deus, e u é?
-
-
-
-
- Ai flores, ai flores do verde ramo,
- se sabedes novas do meu amado!
-
- ai Deus, e u é?
-
-
-
-
- Se sabedes novas do meu amigo,
- aquel que mentiu do que pôs comigo!
-
- ai Deus, e u é?
-
-
-
-
- Se sabedes novas do meu amado,
- aquel que mentiu do que mi há jurado!
-
- ai Deus, e u é?"
-
-
- (...)
- Eu lírico feminino.
- Presença de paralelismos.
- Predomínio da musicalidade.
- Assunto Principal: o lamento da moça cujo namorado partiu.
- Amor natural e espontâneo.
- Amor possível.
- Ambientação popular rural ou urbana.
- Influência da tradição oral ibérica.
- Deus é o elemento mais importante do poema.
- Pouca subjetividade.
Cantiga de Escárnio
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia! (...)
- Crítica indireta; normalmente a pessoa satirizada não é identificada.
- Linguagem trabalhada, cheia de sutilezas, trocadilho e ambiguidades
- Ironia
Cantiga de Maldizer
-
-
- "Ai dona fea! Foste-vos queixar
- Que vos nunca louv'en meu trobar
- Mais ora quero fazer un cantar
- En que vos loarei toda via;
- E vedes como vos quero loar:
- Dona fea, velha e sandia!
-
-
-
- Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
- E pois havedes tan gran coraçon
- Que vos eu loe en esta razon,
- Vos quero já loar toda via;
- E vedes qual será a loaçon:
- Dona fea, velha e sandia!
-
-
-
- Dona fea, nunca vos eu loei
- En meu trobar, pero muito trobei;
- Mais ora já en bom cantar farei
- En que vos loarei toda via;
- E direi-vos como vos loarei:
- Dona fea, velha e sandia!"
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário