segunda-feira, 18 de março de 2013

Simulados e quizzes

Simulados - Guia do estudante


Mais uma dica para quem precisa se preparar par ao vestibular: Simulados para você testar seus conhecimentos e aprimorar seus estudos. Acesse http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/simulados, escolha um dos temas e boa sorte!


Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br






domingo, 10 de março de 2013

Romantismo - 2ª geração


Romantismo – Segunda geração (Ultrarromântica)

A segunda geração do Romantismo tem seus traços mais facilmente identificáveis no campo da poesia e seu marco inicial é dado pela publicação da poesia de Álvares de Azevedo (1831 - 1852).
Enquanto a chamada primeira geração se empenhou em redefinir a literatura como sendo algo genuinamente nacionalista, voltada para as origens indígenas (figura heroica do índio) e para as questões culturais, a segunda geração baseou-se em uma arte totalmente voltada para o desapego a este nacionalismo e “mergulhou” em um sentimentalismo e pessimismo doentios como forma de escapar da realidade e dos problemas que assolavam a sociedade na época.
A segunda geração romântica (geração do Mal do Século) foi caracterizada pelo extremo subjetivismo, extremo egocentrismo e pessimismo que culminavam com o sentimento de morte, dúvida e obscuridade.  Esses fortes sentimentos pessimistas, levavam os poetas a preferirem os lugares escuros, sombrios e úmidos para se estabelecerem.  Além disso, eram boêmios noturnos assíduos e tinham a bebida como foco principal, uma vez que esta funcionava com válvula de escape para os problemas.
Essa exacerbação da sentimentalidade e das fantasias da imaginação mórbida exige uma versificação mais livre, menos apegada a esquemas formais preestabelecidos, e define as obras poéticas de maior impacto do período, como Um Cadáver de Poeta, de Álvares de Azevedo.
A temática pregada por eles baseava-se no sonho, devaneio, o amor platônico, a mulher vista como uma figura inatingível, impalpável, vista mais no plano espiritual do que no material.  Inspirados pelo inglês Byron, pelo italiano Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de Musset, os poetas da segunda geração escrevem poemas que sugerem uma entrega total aos caprichos da sensibilidade e da fantasia, abordando temas que vão do vulgar ao sublime, do poético ao sarcástico e ao prosaico. A morte precoce ajudou a compor a mística em torno desses poetas de inspiração byroniana, que não raro fazem apologia da misantropia e do narcisismo, cultivam paixões incestuosas, macabras, demoníacas e mórbidas.
Principais autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.

Vejamos alguns poemas da segunda geração romântica.
Soneto (Álvares de Azevedo)
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo! 


Minha alma é triste (Casimiro de Abreu)
Minha alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

E, como rola que perdeu o esposo,
Minh'alma chora as ilusões perdidas
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.



Morte (Junqueira Freire)
“Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dous fantasmas que a exigência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada.” (...)

Cântico do Calvário - À memória de meu Filho morto a 11 de dezembro de 1863
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste!- Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!




Rede Social de Leitores

Já conhece o Skoob??? É uma rede social que onde leitores de diferentes gêneros trocam experiências e informações sobre livros, etc...

Para se cadastrar você tem que acessar:    http://www.skoob.com.br

Adicione amigos, as obras que você leu, resenhas e divirta-se!

Capela Sistina pode ser visitada em 360°

Capela Sistina (em italiano: Cappella Sistina) é uma capela situada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa na Cidade do Vaticano. É famosa pela sua arquitetura, inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento, e sua decoração em afrescos, pintada pelos maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo, Raphael, Bernini e Sandro Botticelli.

Gente... Olha que legal esse link. Dá para visitar a Capela Sistina sem sair de casa!


http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html



Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,capela-sistina-pode-ser-visitada-em-360%C2%B0-,1006471,0.htm


quarta-feira, 6 de março de 2013

Gil Vicente - A farsa de Inês Pereira

Gil Vicente - A farsa de Inês Pereira

Considerada a peça mais complexa de Gil Vicente, a obra pode ser dividida em cinco partes: a primeira é um retrato da rotina na qual se insere a protagonista; a segunda reflete a situação da mulher na sociedade da época; a terceira mostra o comércio casamenteiro, representado pelos judeus comerciantes e pelo arranjo matrimonial-mercantil de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o casamento, o despertar para a realidade, contrapondo-a ao sonho que embalava as fantasias da protagonista e, finalmente, a quinta parte reflete a realidade brutal da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito próprio.

É a história de uma jovem sonhadora que procura por meio do casamento com um homem que saiba tanger viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a proposta de Pero Marques, filho de um camponês rico, homem tolo e ingênuo, e aceita se casar com Brás da Mata, escudeiro pobretão. Seus sonhos são logo desfeitos, porque o marido revela sua personalidade bruta, e passa a maltratá-la e explorá-la. Brás da Mata vai para a África e lá vem a falecer. Inês, ensinada pela dura experiência, toma consciência da realidade e aceita se casar com Pero Marques, seu primeiro pretendente. Depressa também a jovem aceita a corte de um falso ermitão. A farsa termina com o marido (cantado por ela como cuco, gamo e cervo, tradicionalmente concebidos como símbolos do homem traído) levando-a às costas (asno que me carregue) até a gruta em que vive o ermitão, para um encontro nada ingênuo.


Acesse o texto integral aqui:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1819

Gil Vicente - O velho e a horta

Gil Vicente - O velho e a horta

O Velho da Horta  é uma peça que trata das desventuras amorosas de um senhor, em idade avançada, que se apaixona por uma jovem que vai todos os dias a sua horta para comprar verduras.
O velho criado por Gil Vicente representa a poesia palaciana e a da moça é despojada, se contrapondo à linguagem do velho.

A cena inicial é marcada pela tentativa de conquista e o diálogo se dá entre o lirismo enamorado do Velho e os ditos zombeteiros da Moça. Em seguida, entra em cena uma alcoviteira que oferece seus préstimos profissionais para garantir ao Velho a posse da amada. Mediante promessas de que o êxito está próximo, a mulher extorque toda a riqueza do Velho. Finalmente, entra em cena a Justiça que prende a alcoviteira, mas retira do Velho a esperança de ver realizado tão louco amor. No final, vem a notícia de que a jovem que motivou tão tresloucada paixão casou-se.
Acesse o texto integral aqui:

http://www.confederacaodascolectividades.com/docs/O%20Velho%20da%20Horta.pdf


Cultura...

Literatura, música, oficinas, cinema, lazer... Seja qual for o motivo, vale a pena acompanhar estas páginas

Centro Cultural São Paulo
https://www.facebook.com/CCSPLiteratura
http://www.centrocultural.sp.gov.br/

Espaço público de cultura e convívio, o Centro Cultural São Paulo (da Secretaria Municipal de Cultura) recebe o público em quatro pavimentos de uma área de 46.500 m² localizada entre as ruas Vergueiro e a 23 de maio, e entre as estações Vergueiro e Paraíso do metrô.
Inaugurado em 13 de maio de 1982, a partir da necessidade de uma extensão da Biblioteca Mário de Andrade, transformou-se em um dos primeiros espaços culturais multidisciplinares do país.
O projeto concebido por um grupo de arquitetos coordenado por Eurico Prado Lopes e Luiz Telles deu origem a um espaço caracterizado pela arquitetura do encontro, que atualmente oferece...
... um conjunto de bibliotecas com acervo multidisciplinar de reconhecida relevância, entre elas a Sérgio Milliet, segunda maior biblioteca pública da cidade de São Paulo e a única que é aberta aos domingos e feriados.
... expressivas coleções da cidade de São Paulo - Coleção de Arte da Cidade, Discoteca Oneyda Alvarenga, Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, Arquivo Multimeios e Coleção Memória do Centro Cultural São Paulo.
... uma programação que pode ser desfrutada gratuitamente ou a preços populares, com espetáculos de teatro, dança e música, séries voltadas à literatura e à poesia, mostras de artes visuais, atividades ligadas aos acervos, projeções de cinema e vídeo, oficinas, debates e palestras.
... jardins com árvores sobreviventes da construção do metrô que estabelecem um contraponto ao visual, à sonoridade e ao ritmo urbanos.
... e a simples e rara oportunidade de parar, estar, criar em um espaço público amplo, vivo, democrático.



Casa das Rosas
https://www.facebook.com/casadasrosas?fref=ts
http://www.casadasrosas-sp.org.br/

Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, é um local de celebração da poesia, da literatura e da arte em geral.Localizada no coração de São Paulo, na Avenida Paulista, 37, a Casa serve de cenário para a efervescência da vida cultural, sendo um espaço onde a arte literalmente acontece. Nosso horário de funcionamento é de terça-feira a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos e feriados, das 10h às 18h.



MASP
https://www.facebook.com/maspmuseu?fref=ts
http://masp.art.br/masp2010/

A missão do MASP é "Incentivar, divulgar e amparar, por todos os meios ao seu alcance, as artes de um modo geral e, em especial, as artes visuais, visando o desenvolvimento e o aprimoramento cultural do povo brasileiro."




Museu da Imagem e do Som
https://www.facebook.com/museudaimagemedosom?fref=ts
http://www.mis-sp.org.br/


A trajetória do Museu da Imagem e do Som refletiu as transformações pelas quais as culturas brasileira e mundial passaram. Atualmente, quando a tecnologia se alia à sensibilidade humana na criação artística, e as instituições se adequam às demandas sociais, o MIS se afirma como espaço que coloca em diálogo vivo memória e contemporaneidade, investigação técnica e ampliação do acesso às inovações da arte.
Em 2011, o MIS recebeu um novo plano de atividades sob a gestão de André Sturm. Assim, frente a todo o seu valor histórico e cultural na cidade de São Paulo, o museu passa a ser um espaço de encontro para população paulista, onde a pluralidade na programação artística e a efervescência cultural prevalecem. Este MIS, que tem suas atividades garantidas por uma parceria público-privada gerenciada pela Organização Social de Cultura Paço das Artes, passou, então, a atuar baseado em áreas pensadas para agir de forma coordenada e complementar.
Museu da Língua Portuguesa


O Museu da Língua Portuguesa, dedicado à valorização e difusão do nosso idioma (patrimônio imaterial), apresenta uma forma expositiva diferenciada das demais instituições museológicas do país e do mundo, usando tecnologia de ponta e recursos interativos para a apresentação de seus conteúdos.

Os principais objetivos do Museu da Língua Portuguesa são:
- mostrar a língua como elemento fundamental e fundador da nossa cultura;
- celebrar e valorizar a Língua Portuguesa, apresentada suas origens, história e influências sofridas;
- aproximar o cidadão usuário de seu idioma, mostrando que ele é o verdadeiro “proprietário” e agente modificador da Língua Portuguesa;
- valorizar a diversidade da Cultura Brasileira;
- favorecer o intercâmbio entre os diversos países de Língua Portuguesa;
- promover cursos, palestras e seminários sobre a Língua Portuguesa e temas pertinentes;
- realizar exposições temporárias sobre temas relacionadas à Língua Portuguesa e suas diversas áreas de influência.

Pinacoteca do Estado de São Paulo
http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/


A Pinacoteca do Estado é um museu de artes visuais, com ênfase na produção brasileira do século XIX até a contemporaneidade, pertencente à Secretaria de Estado da Cultura. Fundada em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, é o museu de arte mais antigo da cidade. Está instalada no antigo edifício do Liceu de Artes e Ofícios, projetado no final do século XIX pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, que sofreu uma ampla reforma com projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, no final da década de 1990.

O acervo original da Pinacoteca foi formado com a transferência, do então Museu do Estado, hoje Museu Paulista da Universidade de São Paulo, de 26 obras de importantes artistas que atuaram na cidade como Almeida Júnior, Pedro Alexandrino, Antonio Parreiras e Oscar Pereira da Silva. Atravessou seu primeiro século de atividades acumulando realizações e formou um significativo acervo, hoje com cerca de nove mil obras. Passou por uma marcante transformação assumindo-se, gradativamente, como um museu de arte contemporânea, comprometido com a produção de seu tempo, com destacada presença no cenário artístico do País. 




Museu da Imigração do Estado de São Paulo
https://www.facebook.com/MuseudaImigracao
http://www.memorialdoimigrante.org.br/

O Museu da Imigração, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, está em processo de restauro das edificações. Durante o período de obras, visando garantir a segurança do acervo e a continuidade dos serviços públicos prestados (emissão de certidões e atestados), os acervos da instituição foram transferidos temporariamente para outras instalações.

Além da obra de restauro, um novo projeto museológico – mesclando recursos interativos e multimidiáticos com o rico acervo físico e documental da instituição – será implantado. Os projetos, definidos pela Secretaria de Estado da Cultura, serão realizados em parceria com a Associação dos Amigos do Museu do Café que, depois de chamada pública, foi selecionada como organização social de cultura responsável pelo gerenciamento da instituição.




segunda-feira, 4 de março de 2013

Trovadorismo



O Trovadorismo é considerada a primeira escola literária portuguesa,  ocorreu entre os séculos XII a XIV. Neste período, Portugal se firmava como reino independente separando-se da Galiza ou Galícia.
O período histórico em que se desenvolveu o Trovadorismo é chamado feudalismo (sistema de organização social e político baseado nas relações servo-contratuais). Neste sistema, os senhores feudais conseguiam as terras – que lhes eram dadas pelo rei -  e colocavam  os camponeses para cuidar dos feudos. Em troca, os camponeses recebiam o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção contra ataques bárbaros. Quando os servos iam para o manso senhorial, atravessando a ponte, tinham que pagar um pedágio, exceto quando para lá se dirigiam a fim de cuidar das terras do Senhor Feudal.
Toda a produção literária do Trovadorismo foi desenvolvida em galego-português, língua que mais tarde daria origem ao português.
A base da produção literária trovadoresca foram as cantigas, que eram  transmitidas oralmente. Isto facilitava a transmissão de informações, visto que a maior parte da população não tinha acesso a educação (centralizada nas mãos do clero e da nobreza).

Curiosidade:
O processo de educação na Idade Média era de total responsabilidade da Igreja. As escolas funcionavam anexas às catedrais ou às escolas monásticas, muitas funcionavam nos mosteiros. A Igreja foi um instrumento essencial no processo da educação na Idade Média, a grande disseminadora do conhecimento.
Para acontecer o ensino precisava-se de uma autorização, essa era cedida pelos bispos e pelos diretores das escolas eclesiásticas que, com medo de perderem a influência, dificultavam ao máximo essa concessão. Reagindo contra essas limitações, professores e alunos organizaram-se em associações denominadas universitas, que mais tarde originou a palavra universidades. As universidades eram compostas por quatro divisões ou faculdades. A faculdade de Artes era o lugar onde a educação acontecia de forma mais geral, as faculdades de Direito, Medicina e Teologia trabalhavam o conhecimento de forma mais específica. Os diretores das faculdades eram chamados de decanos e eleitos pelos professores; o decano da Faculdade de Artes era o reitor e representava oficialmente a universidade.
Os cursos oferecidos eram em latim e com isso exigia-se do estudante muito empenho e dedicação. O estudo das sete artes liberais era dividido em dois ciclos: o trivium e o quadrivium. O primeiro compreendia a gramática, a retórica e a lógica; o segundo compunha-se do estudo da aritmética, geografia, astronomia e música. Conforme o grau de afinidade, distribuíam-se então os estudantes pelos cursos de Direito, Medicina e Teologia. Os estudantes viviam em um ritmo frenético e as calorosas discussões com a população eram rotineiras. De uma forma geral os estudantes eram de origem humilde e muitos viviam internos em colégios ou internatos que contavam com rígidas formas disciplinadoras estudantis. Com o tempo esses colégios passaram a constituir campos de estudos autônomos, sendo que alguns deles ainda existem, e são renomados mundialmente, como os de Oxford, Cambridge e o de Sorbonne, fundado em 1257 por Rogério de Sorbon, na França.


O marco inicial do Trovadorismo é a Cantiga da Ribeirinha (1189 ou 1198) de Paio Soares Taveirós.

No mundo nom me sei parelha,
 mentre me for' como me vai, 
ca ja moiro por vos - e ai 
mia senhor branca e vermelha, 
queredes que vos retraia 
quando vos eu vi em saia! 

Mao dia que me levantei, que vos enton nom vi fea! "
"E, mia senhor, des aquel di' , ai!  
me foi a mim muin mal, 
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha 
d'aver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia 
nunca de vós ouve nem ei 
valia d'ua correa". 

No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha vida continuar como vai
porque morro por ti e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que eu vos descreva (retrate) 
quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima)  

Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela). 
E, minha senhora, desde aquele dia, ai
tudo me foi muito mal / e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas)
pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor)
de vós nunca recebi algo, mesmo que sem valor.


As cantigas trovadorescas são divididas da seguinte forma:





 Cantiga de Amor

               "A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."
  • Eu lírico masculino
  • Assunto Principal: o sofrimento amoroso do eu-lírico perante uma mulher idealizada e distante.
  • Amor cortês; vassalagem amorosa.
  • Amor impossível.
  • Ambientação aristocrática das cortes.
  • Forte influência provençal.
  • Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhor".


Cantiga de Amigo


"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
(...)
  • Eu lírico feminino.
  • Presença de paralelismos.
  • Predomínio da musicalidade.
  • Assunto Principal: o lamento da moça cujo namorado partiu.
  • Amor natural e espontâneo.
  • Amor possível.
  • Ambientação popular rural ou urbana.
  • Influência da tradição oral ibérica.
  • Deus é o elemento mais importante do poema.
  • Pouca subjetividade.

Cantiga de Escárnio 

Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia! (...)
  • Crítica indireta; normalmente a pessoa satirizada não é identificada.
  • Linguagem trabalhada, cheia de sutilezas, trocadilho e ambiguidades
  • Ironia


Cantiga de Maldizer

"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!"



  • Crítica direta; geralmente a pessoa satirizada é identificada
  • Linguagem agressiva, direta, por vezes obscena
  • Zombaria
  • Linguagem Culta



  • domingo, 3 de março de 2013

    I-Juca Pirama - Romantismo


    Considerado pelos críticos um dos poemas mais elaborados do romantismo e, por muitos, a obra-prima de Gonçalves Dias, I-Juca Pirama relata a história do último guerreiro vivo da tribo tupi que é capturado pelos Timbiras, tribo antropófaga (que pratica o canibalismo) e que, por ser bravo e corajoso, deve ter sua carne comida em uma cerimônia religiosa.

    Antes dos sacrifícios, o chefe Timbira propõe ao guerreiro que cante suas façanhas para que os bravos Timbiras tenham maior gosto em sacrificá-lo. No entanto, o que se segue é um pedido de clemência em virtude de ser o último sobrevivente da sua tribo e ter ainda a responsabilidade de cuidar do pai, velho e cego. Depois do seu triste canto, os Timbiras se recusam a sacrificá-lo e então, o jovem parte triste e envergonhado com a recusa. 

    Quando chega para junto de seu pai, este percebe que o filho está com cheiro da tinta que é utilizada para ungir quem será sacrificado e, interessado na bravura do filho, o velho pai quer saber como ele conseguiu fugir. Ao descobrir que o filho não terminou o ritual, nem matou os seus agressores, decide que devem ir à tribo terminar o ritual. Na tribo Timbira, o velho Tupi descobre que o filho na verdade havia chorado em presença da morte e amaldiçoa o próprio filho, praguejando uma sequência de desgraças, acusando-o de manchar a honra e o nome na raça Tupi. 

    O filho, não podendo suportar o ódio do pai, se enche de valentia e num súbito ato, declara ataque a toda a tribo Timbira. O cego reconhece o brado do filho, e ouvindo os barulhos do embate, entendeu que o filho lutava com bravura.  A confusão acabou quando o chefe Timbira gritou:

    "— Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste, — E para o sacrifício é mister forças." 


    O título do poema é tirado da língua tupi e significa, conforme explica o próprio autor, “o que há de ser morto, e que é digno de ser morto”, portanto "I-Juca Pirama” não tem nada a ver com o nome do índio aprisionado pelos Timbiras. 

    Predomina no poema o gênero lírico – um lirismo fácil e espontâneo. Como é próprio do romantismo, é um lirismo que brota do coração e da “imaginação criadora” do poeta e que expressa bem o sentimentalismo romântico. A obra é indianista e vale ressaltar a musicalidade dos versos que é uma característica típica de Gonçalves Dias. 

    No poema temos uma visão do índio ligado aos seus costumes, idealizado e moldado ao gosto romântico. O índio integrado no ambiente natural e, principalmente, adequado a um sentimento de honra, reflete o pensamento ocidental, típico das novelas de cavalaria medievais - é o caso do texto Rei Arthur e a Távola Redonda. Se os europeus podiam encontrar na Idade Média as origens da nacionalidade, o mesmo não aconteceu com os brasileiros. Provavelmente por essa razão, a volta ao passado, mesclada ao culto do bom selvagem, encontra na figura do indígena o símbolo exato e adequada para a realização da pesquisa lírica e heroica do passado. 



    I-Juca Pirama

    No meio das tabas de amenos verdores,
    Cercadas de troncos - cobertos de flores,
    Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
    São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
    Temíveis na guerra, que em densas coortes
    Assombram das matas a imensa extensão.
    São rudos, severos, sedentos de glória,
    Já prélios incitam, já cantam vitória,
    Já meigos atendem à voz do cantor:
    São todos Timbiras, guerreiros valentes!
    Seu nome lá voa na boca das gentes,
    Condão de prodígios, de glória e terror!
    As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
    As armas quebrando, lançando-as ao rio,
    O incenso aspiraram dos seus maracás:
    Medrosos das guerras que os fortes acendem,
    Custosos tributos ignavos lá rendem,
    Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
    No centro da taba se estende um terreiro,
    Onde ora se aduna o concílio guerreiro
    Da tribo senhora, das tribos servis:
    Os velhos sentados praticam d’outrora,
    E os moços inquietos, que a festa enamora,
    Derramam-se em torno dum índio infeliz.
    Quem é? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,
    Sua tribo não diz: - de um povo remoto
    Descende por certo - dum povo gentil;
    Assim lá na Grécia ao escravo insulano
    Tornavam distinto do vil muçulmano
    As linhas corretas do nobre perfil.
    Por casos de guerra caiu prisioneiro
    Nas mãos dos Timbiras: - no extenso terreiro
    Assola-se o teto, que o teve em prisão;
    Convidam-se as tribos dos seus arredores,
    Cuidosos se incubem do vaso das cores,
    Dos vários aprestos da honrosa função.
    Acerva-se a lenha da vasta fogueira
    Entesa-se a corda da embira ligeira,
    Adorna-se a maça com penas gentis:
    A custo, entre as vagas do povo da aldeia
    Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
    Garboso nas plumas de vário matiz.
    Em tanto as mulheres com leda trigança,
    Afeitas ao rito da bárbara usança,
    índio já querem cativo acabar:
    A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
    Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
    Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,

    II

    Em fundos vasos d’alvacenta argila
    Ferve o cauim;
    Enchem-se as copas, o prazer começa,
    Reina o festim.
    O prisioneiro, cuja morte anseiam,
    Sentado está,
    O prisioneiro, que outro sol no ocaso
    Jamais verá!
    A dura corda, que lhe enlaça o colo,
    Mostra-lhe o fim
    Da vida escura, que será mais breve
    Do que o festim!
    Contudo os olhos d’ignóbil pranto
    Secos estão;
    Mudos os lábios não descerram queixas
    Do coração.
    Mas um martírio, que encobrir não pode,
    Em rugas faz
    A mentirosa placidez do rosto
    Na fronte audaz!
    Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
    No passo horrendo?
    Honra das tabas que nascer te viram,
    Folga morrendo.
    Folga morrendo; porque além dos Andes
    Revive o forte,
    Que soube ufano contrastar os medos
    Da fria morte.
    Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,
    Lá murcha e pende:
    Somente ao tronco, que devassa os ares,
    O raio ofende!
    Que foi? Tupã mandou que ele caísse,
    Como viveu;
    E o caçador que o avistou prostrado
    Esmoreceu!
    Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes
    Revive o forte,
    Que soube ufano contrastar os medos
    Da fria morte.

    III

    Em larga roda de novéis guerreiros
    Ledo caminha o festival Timbira,
    A quem do sacrifício cabe as honras,
    Na fronte o canitar sacode em ondas,
    O enduape na cinta se embalança,
    Na destra mão sopesa a iverapeme,
    Orgulhoso e pujante. - Ao menor passo
    Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,
    Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
    Como que por feitiço não sabido
    Encantadas ali as almas grandes
    Dos vencidos Tapuias, inda chorem
    Serem glória e brasão d’imigos feros.
    "Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;
    "Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
    "As nossas matas devassaste ousado,
    "Morrerás morte vil da mão de um forte."
    Vem a terreiro o mísero contrário;
    Do colo à cinta a muçurana desce:
    "Dize-nos quem és, teus feitos canta,
    "Ou se mais te apraz, defende-te." Começa
    O índio, que ao redor derrama os olhos,
    Com triste voz que os ânimos comove.

    IV

    Meu canto de morte,
    Guerreiros, ouvi:
    Sou filho das selvas,
    Nas selvas cresci;
    Guerreiros, descendo
    Da tribo tupi.
    Da tribo pujante,
    Que agora anda errante
    Por fado inconstante,
    Guerreiros, nasci;
    Sou bravo, sou forte,
    Sou filho do Norte;
    Meu canto de morte,
    Guerreiros, ouvi.
    Já vi cruas brigas,
    De tribos imigas,
    E as duras fadigas
    Da guerra provei;
    Nas ondas mendaces
    Senti pelas faces
    Os silvos fugaces
    Dos ventos que amei.
    Andei longes terras
    Lidei cruas guerras,
    Vaguei pelas serras
    Dos vis Aimoréis;
    Vi lutas de bravos,
    Vi fortes - escravos!
    De estranhos ignavos
    Calcados aos pés.
    E os campos talados,
    E os arcos quebrados,
    E os piagas coitados
    Já sem maracás;
    E os meigos cantores,
    Servindo a senhores,
    Que vinham traidores,
    Com mostras de paz.
    Aos golpes do imigo,
    Meu último amigo,
    Sem lar, sem abrigo
    Caiu junto a mi!
    Com plácido rosto,
    Sereno e composto,
    O acerbo desgosto
    Comigo sofri.
    Meu pai a meu lado
    Já cego e quebrado,
    De penas ralado,
    Firmava-se em mi:
    Nós ambos, mesquinhos,
    Por ínvios caminhos,
    Cobertos d’espinhos
    Chegamos aqui!
    O velho no entanto
    Sofrendo já tanto
    De fome e quebranto,
    Só qu’ria morrer!
    Não mais me contenho,
    Nas matas me embrenho,
    Das frechas que tenho
    Me quero valer.
    Então, forasteiro,
    Caí prisioneiro
    De um troço guerreiro
    Com que me encontrei:
    O cru dessossêgo
    Do pai fraco e cego,
    Enquanto não chego
    Qual seja, - dizei!
    Eu era o seu guia
    Na noite sombria,
    A só alegria
    Que Deus lhe deixou:
    Em mim se apoiava,
    Em mim se firmava,
    Em mim descansava,
    Que filho lhe sou.
    Ao velho coitado
    De penas ralado,
    Já cego e quebrado,
    Que resta? - Morrer.
    Enquanto descreve
    O giro tão breve
    Da vida que teve,
    Deixai-me viver!
    Não vil, não ignavo,
    Mas forte, mas bravo,
    Serei vosso escravo:
    Aqui virei ter.
    Guerreiros, não coro
    Do pranto que choro:
    Se a vida deploro,
    Também sei morrer.

    V

    Soltai-o! - diz o chefe. Pasma a turba;
    Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
    Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!
    Brada segunda vez com voz mais alta,
    Afrouxam-se as prisões, a embira cede,
    A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.
    Timbira, diz o índio enternecido,
    Solto apenas dos nós que o seguravam:
    És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
    Tu que assim do meu mal te comoveste,
    Nem sofres que, transposta a natureza,
    Com olhos onde a luz já não cintila,
    Chore a morte do filho o pai cansado,
    Que somente por seu na voz conhece.
    - És livre; parte.
    - E voltarei.
    - Debalde.
    - Sim, voltarei, morto meu pai.
    - Não voltes!
    É bem feliz, se existe, em que não veja,
    Que filho tem, qual chora: és livre; parte!
    - Acaso tu supões que me acobardo,
    Que receio morrer!
    - És livre; parte!
    - Ora não partirei; quero provar-te
    Que um filho dos Tupis vive com honra,
    E com honra maior, se acaso o vencem,
    Da morte o passo glorioso afronta.
    - Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
    E tu choraste!... parte; não queremos
    Com carne vil enfraquecer os fortes.
    Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas
    O rebater do coração se ouvia
    Precípite. - Do rosto afogueado
    Gélidas bagas de suor corriam:
    Talvez que o assaltava um pensamento...
    Já não... que na enlutada fantasia,
    Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,
    Do velho pai a moribunda imagem
    Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! Ingrato!
    Curvado o colo, taciturno e frio.
    Espectro d’homem, penetrou no bosque!

    VI

    - Filho meu, onde estás?
    - Ao vosso lado;
    Aqui vos trago provisões; tomai-as,
    As vossas forças restaurai perdidas,
    E a caminho, e já!
    - Tardaste muito!
    Não era nado o sol, quando partiste,
    E frouxo o seu calor já sinto agora!
    - Sim demorei-me a divagar sem rumo,
    Perdi-me nestas matas intrincadas,
    Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;
    Convém partir, e já!
    - Que novos males
    Nos resta de sofrer? - que novas dores,
    Que outro fado pior Tupã nos guarda?
    - As setas da aflição já se esgotaram,
    Nem para novo golpe espaço intacto
    Em nossos corpos resta.
    - Mas tu tremes!
    - Talvez do afã da caça....
    - Oh filho caro!
    Um quê misterioso aqui me fala,
    Aqui no coração; piedosa fraude
    Será por certo, que não mentes nunca!
    Não conheces temor, e agora temes?
    Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,
    E contra o seu querer não valem brios.
    Partamos!... -
    E com mão trêmula, incerta
    Procura o filho, tacteando as trevas
    Da sua noite lúgubre e medonha.
    Sentindo o acre odor das frescas tintas,
    Uma idéia fatal ocorreu-lhe à mente...
    Do filho os membros gélidos apalpa,
    E a dolorosa maciez das plumas
    Conhece estremecendo: - foge, volta,
    Encontra sob as mãos o duro crânio,
    Despido então do natural ornato!...
    Recua aflito e pávido, cobrindo
    Às mãos ambas os olhos fulminados,
    Como que teme ainda o triste velho
    De ver, não mais cruel, porém mais clara,
    Daquele exício grande a imagem viva
    Ante os olhos do corpo afigurada.
    Não era que a verdade conhecesse
    Inteira e tão cruel qual tinha sido;
    Mas que funesto azar correra o filho,
    Ele o via; ele o tinha ali presente;
    E era de repetir-se a cada instante.
    A dor passada, a previsão futura
    E o presente tão negro, ali os tinha;
    Ali no coração se concentrava,
    Era num ponto só, mas era a morte!
    - Tu prisioneiro, tu?
    - Vós o dissestes.
    - Dos índios?
    - Sim.
    - De que nação?
    - Timbiras.
    - E a muçurana funeral rompeste,
    Dos falsos manitôs quebrastes maça...
    - Nada fiz... aqui estou.
    - Nada! -
    Emudecem;
    Curto instante depois prossegue o velho:
    - Tu és valente, bem o sei; confessa,
    Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!
    - Nada fiz; mas souberam da existência
    De um pobre velho, que em mim só vivia....
    - E depois?...
    - Eis-me aqui.
    - Fica essa taba?
    - Na direção do sol, quando transmonta.
    - Longe?
    - Não muito.
    - Tens razão: partamos.
    - E quereis ir?...
    - Na direção do acaso.

    VII

    "Por amor de um triste velho,
    Que ao termo fatal já chega,
    Vós, guerreiros, concedestes
    A vida a um prisioneiro.
    Ação tão nobre vos honra,
    Nem tão alta cortesia
    Vi eu jamais praticada
    Entre os Tupis, - e mas foram
    Senhores em gentileza.
    "Eu porém nunca vencido,
    Nem nos combates por armas,
    Nem por nobreza nos atos;
    Aqui venho, e o filho trago.
    Vós o dizeis prisioneiro,
    Seja assim como dizeis;
    Mandai vir a lenha, o fogo,
    A maça do sacrifício
    E a muçurana ligeira:
    Em tudo o rito se cumpra!
    E quando eu for só na terra,
    Certo acharei entre os vossos,
    Que tão gentis se revelam,
    Alguém que meus passos guie;
    Alguém, que vendo o meu peito
    Coberto de cicatrizes,
    Tomando a vez de meu filho,
    De haver-me por se ufane!"
    Mas o chefe dos Timbiras,
    Os sobrolhos encrespando,
    Ao velho Tupi guerreiro
    Responde com tôrvo acento:
    - Nada farei do que dizes:
    É teu filho imbele e fraco!
    Aviltaria o triunfo
    Da mais guerreira das tribos
    Derramar seu ignóbil sangue:
    Ele chorou de cobarde;
    Nós outros, fortes Timbiras,
    Só de heróis fazemos pasto. -
    Do velho Tupi guerreiro
    A surda voz na garganta
    Faz ouvir uns sons confusos,
    Como os rugidos de um tigre,
    Que pouco a pouco se assanha!

    VIII

    "Tu choraste em presença da morte?
    Na presença de estranhos choraste?
    Não descende o cobarde do forte;
    Pois choraste, meu filho não és!
    Possas tu, descendente maldito
    De uma tribo de nobres guerreiros,
    Implorando cruéis forasteiros,
    Seres presa de via Aimorés.
    "Possas tu, isolado na terra,
    Sem arrimo e sem pátria vagando,
    Rejeitado da morte na guerra,
    Rejeitado dos homens na paz,
    Ser das gentes o espectro execrado;
    Não encontres amor nas mulheres,
    Teus amigos, se amigos tiveres,
    Tenham alma inconstante e falaz!
    "Não encontres doçura no dia,
    Nem as cores da aurora te ameiguem,
    E entre as larvas da noite sombria
    Nunca possas descanso gozar:
    Não encontres um tronco, uma pedra,
    Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
    Padecendo os maiores tormentos,
    Onde possas a fronte pousar.
    "Que a teus passos a relva se torre;
    Murchem prados, a flor desfaleça,
    E o regato que límpido corre,
    Mais te acenda o vesano furor;
    Suas águas depressa se tornem,
    Ao contacto dos lábios sedentos,
    Lago impuro de vermes nojentos,
    Donde fujas com asco e terror!
    "Sempre o céu, como um teto incendido,
    Creste e punja teus membros malditos
    E oceano de pó denegrido
    Seja a terra ao ignavo tupi!
    Miserável, faminto, sedento,
    Manitôs lhe não falem nos sonhos,
    E do horror os espectros medonhos
    Traga sempre o cobarde após si.
    "Um amigo não tenhas piedoso
    Que o teu corpo na terra embalsame,
    Pondo em vaso d’argila cuidoso
    Arco e frecha e tacape a teus pés!
    Sê maldito, e sozinho na terra;
    Pois que a tanta vileza chegaste,
    Que em presença da morte choraste,
    Tu, cobarde, meu filho não és."

    IX

    Isto dizendo, o miserando velho
    A quem Tupã tamanha dor, tal fado
    Já nos confins da vida reservada,
    Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
    Da sua noite escura as densas trevas
    Palpando. - Alarma! alarma! - O velho pára!
    O grito que escutou é voz do filho,
    Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
    Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!
    - Esse momento só vale a pagar-lhe
    Os tão compridos trances, as angústias,
    Que o frio coração lhe atormentaram
    De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
    Ele que em tanta dor se contivera,
    Tomado pelo súbito contraste,
    Desfaz-se agora em pranto copioso,
    Que o exaurido coração remoça.
    A taba se alborota, os golpes descem,
    Gritos, imprecações profundas soam,
    Emaranhada a multidão braveja,
    Revolve-se, enovela-se confusa,
    E mais revolta em mor furor se acende.
    E os sons dos golpes que incessantes fervem,
    Vozes, gemidos, estertor de morte
    Vão longe pelas ermas serranias
    Da humana tempestade propagando
    Quantas vagas de povo enfurecido
    Contra um rochedo vivo se quebravam.
    Era ele, o Tupi; nem fora justo
    Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
    Aturado labor de tantos anos,
    Derradeiro brasão da raça extinta,
    De um jacto e por um só se aniquilasse.
    - Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
    - Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
    E para o sacrifício é mister forças. -
    O guerreiro parou, caiu nos braços
    Do velho pai, que o cinge contra o peito,
    Com lágrimas de júbilo bradando:
    "Este, sim, que é meu filho muito amado!
    "E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
    "Corram livres as lágrimas que choro,
    "Estas lágrimas, sim, que não desonram."

    X

    Um velho Timbira, coberto de glória,
    Guardou a memória
    Do moço guerreiro, do velho Tupi!
    E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
    Do que ele contava,
    Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!
    "Eu vi o brioso no largo terreiro
    Cantar prisioneiro
    Seu canto de morte, que nunca esqueci:
    Valente, como era, chorou sem ter pejo;
    Parece que o vejo,
    Que o tenho nest’hora diante de mi.
    "Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
    Pois não, era um bravo;
    Valente e brioso, como ele, não vi!
    E à fé que vos digo: parece-me encanto
    Que quem chorou tanto,
    Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
    Assim o Timbira, coberto de glória,
    Guardava a memória
    Do moço guerreiro, do velho Tupi.
    E à noite nas tabas, se alguém duvidava
    Do que ele contava,
    Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".
    FIM