Romantismo – Segunda geração (Ultrarromântica)
A segunda geração do Romantismo tem seus traços mais facilmente
identificáveis no campo da poesia e seu marco inicial é dado pela publicação da
poesia de Álvares de Azevedo (1831 - 1852).
Enquanto a chamada primeira geração se empenhou em
redefinir a literatura como sendo algo genuinamente nacionalista, voltada para
as origens indígenas (figura heroica do índio) e para as questões culturais, a
segunda geração baseou-se em uma arte totalmente voltada para o desapego a este
nacionalismo e “mergulhou” em um sentimentalismo e pessimismo doentios como
forma de escapar da realidade e dos problemas que assolavam a sociedade na
época.
A segunda geração romântica (geração do Mal do Século) foi
caracterizada pelo extremo subjetivismo, extremo egocentrismo e pessimismo que
culminavam com o sentimento de morte, dúvida e obscuridade. Esses fortes sentimentos pessimistas, levavam
os poetas a preferirem os lugares escuros, sombrios e úmidos para se
estabelecerem. Além disso, eram boêmios
noturnos assíduos e tinham a bebida como foco principal, uma vez que esta
funcionava com válvula de escape para os problemas.
Essa exacerbação da sentimentalidade e das fantasias da
imaginação mórbida exige uma versificação mais livre, menos apegada a esquemas
formais preestabelecidos, e define as obras poéticas de maior impacto do
período, como Um Cadáver de Poeta, de Álvares de Azevedo.
A temática pregada por eles baseava-se no sonho, devaneio,
o amor platônico, a mulher vista como uma figura inatingível, impalpável, vista
mais no plano espiritual do que no material. Inspirados pelo inglês Byron, pelo italiano
Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de Musset, os
poetas da segunda geração escrevem poemas que sugerem uma entrega total aos
caprichos da sensibilidade e da fantasia, abordando temas que vão do vulgar ao
sublime, do poético ao sarcástico e ao prosaico. A morte precoce ajudou a
compor a mística em torno desses poetas de inspiração byroniana, que não raro
fazem apologia da misantropia e do narcisismo, cultivam paixões incestuosas,
macabras, demoníacas e mórbidas.
Principais autores: Álvares
de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
Vejamos alguns poemas da segunda geração romântica.
Soneto (Álvares de Azevedo)
Pálida, à luz da lâmpada
sombria,
Sobre o leito de flores
reclinada,
Como a lua por noite
embalsamada,
Entre as nuvens do amor
ela dormia!
Era a virgem do mar! Na
escuma fria
Pela maré das águas
embalada!
Era um anjo entre nuvens
d'alvorada
Que em sonhos se banhava
e se esquecia!
Era mais bela! O seio
palpitando...
Negros olhos as
pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito
resvalando...
Não te rias de mim, meu
anjo lindo!
Por ti - as noites eu
velei chorando,
Por ti - nos sonhos
morrerei sorrindo!
Minha alma é triste (Casimiro
de Abreu)
Minha alma é triste como a
rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
E, como rola que perdeu o esposo,
Minh'alma chora as ilusões perdidas
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.
Morte (Junqueira Freire)
“Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dous fantasmas que a exigência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada.” (...)
Cântico do Calvário - À
memória de meu Filho morto a 11 de dezembro de 1863
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste!- Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!